Restart: espírito de uma geração

Enquanto a banda Restart ganhava tudo o que tinha direito no VMB, a premiação mais importante da MTV tupiniquim, e entendidos de música xingavam muito no twitter, eu assistia a um concerto de música clássica – OSESP com a regente americana Marin Alsop, executando a Sétima Sinfonia de Gustav Mahler.

Não quero provar erudição ou superioridade cultural. Não acredito em alta ou baixa cultura, e sei que, se for me colocar em um grupo, sou plebeu. O regente de uma orquestra ainda é aquele que, antes de ser a peça fundamental, é de uma importância humorística vital. Fora de contexto, os movimentos da batuta são risos.

à véspera da apresentação, Marin Alsop participou de um debate cujo tema era “música clássica e cidadania”. A maestrina se destaca em sua área por pelo menos duas razões: é uma mulher à frente de uma Filarmônica de peso (Baltimore) em um ambiente dominado por homens; mantém projetos de inserção social em sua região de jovens em situação de risco por meio da música clássica.

Além da educação musical, Alsop deu a oportunidade a jovens músicos de participarem de ensaios com sua orquestra completa. “Essa geração não se contenta apenas em assistir, serem passivos. Eles querem participar do processo, e você tem que abrir essa porta para eles”, ela disse. Não exatamente com essas palavras, mas a idéia central era exatamente essa. Público bovino? Isso é coisa dos tempos de Bethoveen.

A nova era é dominada pelo Restart. E faz todo o sentido a banda ser o que é – a mais popular e amada no Brasil. Eles são o espírito do nosso tempo.

Quando se é moleque, você quer fazer parte de um grupo. Playboys, nerds, escoteiros, atléticos, metaleiros, praieiros, chicleteiros. Quer mais o que? Até os excluídos se reúnem e tornam-se um grupo – o dos excluídos. É mais fácil você aguentar os trancos da vida ao lado de quem tem as mesmas aflições que você.

Os fãs do Restart não são apenas fãs. São parte de uma família – a família Restart. Pesquisei e descobri: a banda não mantém site oficial. O canal de comunicação é Myspace e Twitter. Você ouve o som, vê a imagem, deixa uma mensagem, torna-se amigo. Resolvi conhecer o Fotolog, outro canal de comunicação, um dia após as vitórias no VMB. A página de recados estava lotada. Resolvi visitar cinco perfís que deixaram mensagens. Todas garotas entre 13 e 16 anos. Todas celebravam a vitória. Criticavam a inveja daqueles que vaiaram o grupo. Eles, que estavam no palco, não eram apenas quatro – eram milhares.

Meus ídolos nunca se importaram comigo assim. São bem mais velhos, antiquados, e no geral estão a milhas de distância de mim. Sem contar os mortos. O Restart, não. O amor de quem os acompanha não é platônico, é real. Eles são de carne e osso, com idade não muito diferente do resto da família. São descolados, tem atitude (no visual), cantam exatamente as angústias de quem os ouve.

E as músicas? Baixei o disco na Internet – faz parte do jogo. São tweets auditivos. Cada uma dura pouco mais que três minutos. Rápidas, fáceis, estéreis. Seguem o caminho pavimentado por bandas como NxZero, Fresno e outros bastiões da geração emo, que, de um lado veem sua base de fãs envelhecerem (e correrem para outros lados), e, de outro, uma nova geração cansada de usar preto e partir para as cores vivas.

Tudo está como deveria estar. O Restart é a banda da juventude. Uma geração que tem como ídolos Kaká, os Jonas Brothers e os sobrenaturais de Crepúsculo. Todos bonitos. Todos inofensivos. Todos eternos virgens.

Todos muito chatos.

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Uma resposta para Restart: espírito de uma geração

  1. Letícia disse:

    Muito bom!Enquanto o Restart personifica nossa adolescecência, tu captou exatamente a real natureza deles, “todos muito chatos” hahaha.

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